Vulnerabilidade vivida e sentida no masculino

2024-11-19   Publicado por:

O ser humano, homem ou mulher, possuem no seu interior aspectos carregados de vulnerabilidade. Muitas dessas vulnerabilidades podem estar conscientes, mas a verdade é que a grande maioria vivem no inconsciente, e desde esse local conduzem a nossa vida e levam-nos a escolher determinados comportamentos e a ocultar tantos outros. 
 
A vulnerabilidade desenvolve-se à medida que crescemos, que somos educados, e a sua matéria prima é constituída por todos os eventos em que sentimos que a nossa integridade emocional esteve em risco, em que fomos alvo de eventos traumáticos, sendo que traumáticos não significa somente algo extremamente violento, e sim, por exemplo, todas as vezes que buscamos amor, aprovação, validação de quem éramos enquanto crianças junto dos nossos adultos cuidadores, e talvez não a tenhamos colhido (sem julgamentos de certo ou errado). 
 
A vulnerabilidade é algo que protegemos a todo o custo, e entrar na mesma, traz muitos sentimentos de medo, insegurança e dificuldade. O nosso corpo ele próprio reage e protege-nos de eventos em que percepcionamos uma ameaça ao que trazemos dentro, sejam emoções, sentimentos ou sensações.
 
Antes de ser terapeuta, e agora escrevo-vos desde um ponto de vista masculino, passei por um longo processo terapêutico de 7 anos, e penso que possa ser importante referir as minhas dificuldades em pedir ajuda para lidar com as vulnerabilidades que estavam naquele momento a obstaculizar a minha vida. 
 
Recordo a chamada telefónica que fiz para a minha terapeuta na altura, de voz trémula, a marcar a primeira sessão de acompanhamento, e recordo igualmente esse dia em que pela primeira vez entrei num gabinete de psicologia, em que tinha inclusive levado um casaco que me permitisse esconder a cabeça ao entrar no edifício, com pavor de ser visto por alguém, de ser reconhecido. 
 
Não sei se isto ressoa com todos os homens, mas com muitos com os quais já me fui cruzando nos corredores da vida, este receio em entrar em espaços de vulnerabilidade, de pedir ajuda quando se sente que algo já não está bem, é transversal a um masculino que ainda é formatado a mostrar que é forte, que as emoções são um empecilho, que os sentimentos dos homens devem de estar alinhados com o restante clã masculino, ainda que quando se chega a casa ao fim do dia, esses valores partilhados pelo restante grupo possam estar a violentar o que se sente no interior. 
 
Aquilo que senti quando procurei terapia, e até mesmo hoje enquanto escrevo este tipo de testemunho, é que há algo que denota fraqueza da minha parte, como se fosse estranho o facto de um homem poder sentir, emocionar-se, chorar, gritar, mostrar alegria, entregar amor, quer no seio dos seus relacionamentos, como também entre os seus pares.

Escrevo este texto, porque sinto uma empatia muito grande por todos os homens (e mulheres, claro) que ainda não conseguem pedir ajuda, procurar um espaço seguro onde possam ser escutadas e validadas as suas emoções, as suas dificuldades, dúvidas, inseguranças, abandonos, perdas... Sinto essa empatia porque compreendo a carga simbólica e toda a complexidade de crenças que estão associadas a um homem que percorre esse caminho de colocar cá fora as suas vulnerabilidades, e o quão difícil é assumir os "preços" que há a pagar ao fazê-lo.
 
Assim de repente, um desses "preços" que por norma há a pagar, é ser-se visto de forma diferente entre os nossos amigos, os companheiros de café ou da bola, de quem trabalha ao nosso lado, e talvez leve muito tempo a lidar com esses potenciais "preços" que têm de ser assumidos.

Caminhar em direção à vulnerabilidade, é dar passos em direção à dor. A dor de ser visto, de não fugir das feridas, de permanecer no desconforto, mas é também um trilho que nos levará a ser mais adultos, mais inteiros, com mais possibilidades e maior coerência nos nossos dias.
 
É seguro ser quem somos para lá das máscaras sociais que utilizamos.
 

Autor: Mário Patinha
Terapeuta Transpessoal

Tags: #terapia, #vulnerabilidademasculina, #diadohomem, #desenharfuturos

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