Todos vamos passar por um processo de luto, mais cedo ou mais tarde. Dentro desta certeza da vida, também há possibilidade de vermos outras pessoas sofrerem ao passarem por este momento delicado.
Quando vemos alguém que gostamos a sofrer, inevitavelmente queremos apaziguar a dor e consolar a tristeza através das nossas palavras e ações.
Embora estejamos carregados de boas intenções, as palavras podem num momento como este ter um impacto mais negativo do que aquele que esperamos e não transmitir a mensagem pretendida. É um lugar ingrato, pois por muito que queiramos, as nossas palavras não serão suficientes para cobrir o sofrimento sentido.
Dessa forma há alguns aspetos que devemos ter em atenção:
- Desvalorizar a perda e o sofrimento.
“Pelo menos ainda tens…(ex: outro filho, a tua mãe).”
“Podes ter outro filho.”
“Nem chegaste a conhecer o bebé.”
“Foi melhor assim.”
“O tempo cura tudo.”
“É só um animal…há coisas mais importantes.”
“Não podes estar sempre a falar nisso, ainda é pior.”
“Ele/ela não te ia querer ver triste/a chorar.”
“Foi no tempo dele.”
“Deus escolheu-o”
Embora não seja a intenção da pessoa desvalorizar o que o outro está a passar e a sentir, a pessoa em sofrimento acaba por ouvir e perceber que a dor que sente não é valorizada o suficiente e até que nem devia estar a sofrer.
Todas as perdas são válidas e individuais. Não há forma de reparar o que aconteceu e por muito que tentemos não é possível fazê-lo.
Mas e o que podemos fazer?
Estar presente, falar do presente, estar disposto(a) a ver a pessoa sofrer, mesmo que isso custe (muito). Dar espaço e valor à dor do outro. Não minimizar o sofrimento. Ofereça ajuda prática: levar o almoço, fazer compras, passear os animais, entre outros - são pequenos gestos que farão diferença.
- Tentar acelerar o processo
“Já não devias ter ultrapassado isso?”
“Tens de seguir em frente.”
“Tens de ser forte.”
“A vida continua.”
“Isto vai passar, tu consegues superar isto”
É natural que não queiramos ver a pessoa sofrer, mas tentar acelerar o processo não ajuda. O luto deve ser vivido, sofrido e expressado de acordo com a individualidade de cada pessoa.
Mas e o que podemos fazer?
Dar tempo à pessoa, ouvir ativamente o que a pessoa tem para dizer e demonstrar o seu carinho, amor/amizade pela pessoa. O luto deve ser vivido e não um problema a ser resolvido (no imediato). Devemos falar no presente se a pessoa falar no presente, falar no passado se a pessoa assim o fizer, espelhar o que a pessoa diz.
- Curiosidade (a mais)
“E morreu de quê?”
“Como é que morreu?”
“Como estava o corpo?”
“Sofreu muito?”
Principalmente quando são mortes inesperadas e repentinas, podemos ter necessidade de saber mais. No entanto, o luto é de quem o está a processar e fazermos continuamente a pessoa reviver um momento tão doloroso apenas para satisfazer a nossa curiosidade, deve ser fortemente evitado.
Mas e o que podemos fazer?
Se a pessoa enlutada demonstrar interesse em falar sobre o assunto, tenha coragem para apresentar abertura para ouvir até onde a pessoa quiser falar.
Não vivemos todos o luto da mesma forma. Tal como somos todos diferentes, a forma como vivenciamos um sofrimento também será ímpar. As reações ao que transmitimos vão ser particulares relativamente àquilo que a pessoa está a sentir. É importante ir ao ritmo da pessoa em sofrimento. Estar, escutar, ajudar e amar.
“Há coisas que são irreparáveis. Elas apenas podem ser suportadas”
Megan Devine