Impacto das Tecnologias na Linguagem das Crianças

2023-03-08   Publicado por:

É certo que o mundo evoluiu e a utilização das novas tecnologias acompanhou a evolução.

A cada dia que passa, a tecnologia está cada vez mais presente na vida das crianças. Recorrentemente ouvimos dizer “eles já nascem ensinados”, quando se referem a crianças que utilizam tablets ou telemóveis sem qualquer dificuldade de manuseio. 

Ora, leva-nos a pensar, até que ponto o uso de tecnologias em excesso é saudável para o desenvolvimento das crianças, mais propriamente do desenvolvimento da linguagem? 

A resposta é simples, não é saudável!

Os primeiros anos de vida de uma criança são essenciais para a aprendizagem das competências sociais, emocionais, cognitivas, linguísticas. A interação humana é fundamental e as tecnologias não são um bom aliado, se forem utilizadas em excesso. O uso excessivo dos ecrãs pode levar a que uma criança apresente dificuldades nas aprendizagens, pode levar a um aumento da impulsividade, atraso no desenvolvimento e alterações no sono. Pode, inclusive, levar a que a criança se isole socialmente e apresente dificuldades em estabelecer relações, afetando drasticamente o desenvolvimento da linguagem. 

E, se por um lado os efeitos da pandemia já afetaram bastante o desenvolvimento da linguagem das crianças, devido ao uso das máscaras, por outro, atualmente os conteúdos da internet afetam muito mais trazendo efeitos negativos à aprendizagem da linguagem.

Dizem grama em vez de relva, autocarro é ônibus, rebuçado é bala, riscas são listras e leite está na geladeira em vez de no frigorífico. O número de crianças que chega a uma primeira consulta de terapia da fala com dificuldades na língua tem sido crescente. Há palavras que nós usamos no português de Portugal que são diferentes das do português do Brasil e aqui começa a haver alguma dificuldade de compreensão, acabando as crianças por misturar as duas.  E esta reprodução de conteúdos, de forma contínua, leva a que sejam absorvidos. É comum, inicialmente, os pais acharem piada, porque é engraçada esta ou aquela expressão e riem-se, mas depois é difícil travar este comportamento.

Nestas idades muito tenras é necessário termos em atenção que absorvem tudo com muita intensidade. É muito importante que os pais percebam o que eles veem, se é ou não supervisionado. Podem ser vistos programas sim, mas programas que tenham um bom guião e uma história com uma organização adequada. E, ao contrário do que muitos pais pensam, a exposição da criança a programas de televisão, jogos e aplicações não é, por si só, sinónimo imediato de desenvolvimento de competências cognitivas e linguísticas. Mais importante que isso é a interação criança-pai que decorre (ou deve decorrer) durante o uso dos aparelhos eletrónicos, a estimulação da linguagem que pode ser feita a partir de cada jogo, de cada atividade, de cada vídeo escolhido pela criança. E, é essencial o controlo por parte dos pais de tudo que as crianças veem a partir de determinada idade, porque nem todas as idades são propensas ao uso de tecnologias.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças até aos 2 anos de idade não tenham qualquer contato com nenhum tipo de ecrã e, dos 2 aos 6 anos, o uso seja considerado num período máximo de uma hora por dia. Entre o sexto e o décimo ano de vida, é possível ampliar esse limite, desde que exista um acompanhamento de alguém responsável.

Por isso pais, não se esqueçam, se utilizada com equilíbrio, a tecnologia pode ser vista como uma excelente ferramenta. Para isso, é preciso saber usá-la com segurança. 

Não se esqueçam também que o “brincar” é um direito universal e temporal para todas as crianças em fase de desenvolvimento mental e cerebral. Brinquem, passeiem, explorem, cozinhem com os vossos filhos, incluam-nos nas tarefas e eles vão certamente adorar!

 

Autor: Helena Oliveira
Terapeuta da Fala

Tags: #desenvolvimentoinfantil, #linguagem, #terapiadafala, #tecnologia

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